Para a postagem de hoje o grupo entrevistou Zezé (pseudônimo), sexo masculino, 62 anos.
Grupo: Você gosta de esportes? Pratica algum?
Zezé: Sim, sou Santista. Pratico esportes todo fim de semana. Faço multifuncional todos os sábados.
Grupo: Se você não se incomodar em falar, como foi sua infância?
Zezé: Foi feliz, tinha amigos, ia à missa todo sábado, morava com meus pais, meus tios e tias, primos e irmão, numa casa bem grande no Centro. Foi uma infância muito feliz.
Grupo: Onde você nasceu?
Zezé: Em Santos.
Grupo: Qual sua descendência?
Zezé: Portugueses e italianos.
Grupo: Você se divertiu na vida? Qual sua maior diversão?
Zezé: Minha maior diversão foi o Caiçara Clube. Eu não bebia, porque meu pai bebia, eu peguei trauma. Ele perdeu o dinheiro dele no bingo, jogo do bicho. Ele foi um homem violento com minha mãe, por isso eu não bebia. Nos aproximamos só quando dei um neto à ele.
Grupo: Como você chegou até o CAPS?
Zezé: Depois de passar pelo Hospital Anchieta. Passei lá um bom tempo, até eles criarem os CAPS. Há mais ou menos 20 anos cheguei no CAPS.
Grupo: Como começou sua doença? Quais os sintomas?
Zezé: Começou quando eu estava casado. Comecei com esquecimentos, não sabia o que fazia, tinha mania de perseguição, comecei a me fechar. Eu não tinha alucinação. Depois da psicanálise passei a ter consciência da minha doença.
Grupo: Como você conseguiu superar a sua doença? De que maneira?
Zezé: Com medicação e quando tomei consciência da minha doença e fui me tratar.
Grupo: E seus pais, foi difícil deles aceitarem a doença?
Zezé: Perdi meu pai em 1984. Ele não se metia com a minha doença. A minha mãe era...ela se revoltou contra mim, ela queria que eu estudasse fora de casa, tivesse minha própria vida, ser autossuficiente. Tive essa capacidade depois que me casei... Sobre a doença? Ela foi muito paciente comigo. Minha tia um dia, nunca me esqueço, perguntou se eu queria me internar. Eu achava que eu não tinha nada, não era doente.
Grupo: Procurou ajuda em alguma religião?
Zezé: Fui Guardião da Ordem Rosa Cruz, da Maçonaria. Depois saí para estudar, nunca mais procurei a Ordem. Mandei uma carta me desligando para ir estudar em outra cidade. Hoje frequento a igreja perto da minha casa.
Grupo: Você chegou a ouvir vozes alguma vez na vida?
Zezé: Não.
Grupo: Você atribui sua doença ao fim do casamento?
Zezé: Não, porque quando voltei do Américo Bairral, eles tinham ido morar com meu sogro, em outra cidade. Me revoltei, pedi perdão, mas ela não me perdoou. Me separei, mas depois me casei de novo. Esse último casamento durou 1 ano, as crianças dela não me aceitavam como padrasto.
Grupo: Quantos filhos você tem?
Zezé: Tenho um filho de 37 anos.
Grupo: Qual seu maior sonho?
Zezé: Meu maior sonho é ver meu neto do novo... Gostaria de vê-lo.
Grupo: Zezé, falamos bastante sobre sua doença... Mas, afinal, qual sua doença?
Zezé: Tenho esquizofrenia.
Grupo: Zezé, foi só com medicação que você conseguiu se tratar?
Zezé: E com a ajuda de Deus...
Grupo: Qual o papel do CAPS pra você?
Zezé: Ajuda mútua, com várias pessoas e profissionais, com amor, carinho e dedicação. Com o apoio também dos companheiros que estão aqui. Tinha uma época que eu andava de um lado pro outro, angustiado, mas agora me sinto útil.
Grupo: Você fala outras línguas? Como inglês, francês, alemão?
Zezé: Falo o inglês básico.
Grupo: Você já procurou um neurologista para ver esse seu esquecimento?
Zezé: Já, ele falou que eu tive um tipo de AVC. Eu não lembro de nada, não lembro de nomes... É como se eu estivesse no mundo da lua...
Grupo: Será que não pode ser anemia?
Zezé: Não, faço exames sempre.
Grupo: Qual foi o relacionamento mais feliz da sua vida, da sua infância até agora?
Zezé: Foi com minha primeira mulher.
Grupo: Você acha que nesse tempo que você está aqui (no CAPS) você tem se sentido melhor?
Zezé: Sim, estou bem melhor, tenho o que fazer, tenho um sentido pra vida, tenho ajuda mútua de todos que estão aqui.
Grupo: Ainda sente solidão?
Zezé: Isolamento é uma solidão...
Grupo: Você consegue se socializar sem a medicação?
Zezé: Nunca parei de tomar a medicação, tomo a medicação há 18 anos sem parar. Mas mesmo sem parar, sinto que estou sozinho no meio da multidão, como se fosse uma solidão mesmo no meio das pessoas, mesmo sentindo que aqui eu falo com todo mundo.
Pedimos para Zezé terminar com a frase que quisesse.
"A esperança é a caridade do amor e do ser humano poder seguir seu caminho, com a paz de Jesus..."
Zezé também escolheu duas figuras que representam sua entrevista e seus sentimentos (clique nas imagens para ampliá-las)...
Zezé, me emocionei com a sua entrevista, sua sinceridade, seu amor a Deus, ao seu neto. Espero que você melhore cada vez mais. Todos no Caps gostam de você. Boa sorte. Sua mensagem final e as fotos escolhidas também são lindas.
ResponderExcluirQueria dizer que o amor é essencial à vida humana. Muito obrigado, Elvira!
ExcluirZezé é um exemplo!
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