A conversa começou com uma pergunta: "O que é a Luta Antimanicomial?"
Elvira: A Luta Antimanicomial serve de reflexão para derrubar preconceitos e divulgar para a população de que "somos todos iguais" e que manicômio não é a solução.
Zé Victor surgiu com a questão: "Ainda tem manicômio?"
Manoel: Ainda existem vários manicômios espalhados por São Paulo, onde ficam as pessoas que "não têm raciocínio de nada", que "não têm noção"; tomam muitos remédios e brigam muito entre eles, mas, não são pessoas malvadas.
Zé Victor: eles ficam desse jeito porque ficam com a cabeça vazia.
Alfredo: Ainda existe internação compulsória.
Foi explicado o que é internação compulsória: prática de utilizar meios ou formas legais como parte de uma lei de saúde mental para internar uma pessoa em um hospital mental, asilo psiquiátrico ou enfermaria mesmo contra a sua vontade ou sob os seus protestos. Médicos, psicólogos e psiquiatras apresentam relatórios escritos ao tribunal e, em alguns casos, depõem os parentes perante o juiz. Existe um compromisso de um limite de tempo, que exige reavaliação em intervalos fixos. A partir disso, cada um começou a trazer a experiência de terem sido internados.
Alfredo: Eu fui internado duas vezes. A primeira internação aconteceu em uma chácara e fiquei 3 meses lá. A segunda internação aconteceu no PAI, dormia amarrado a noite. Lá parecia uma prisão. Eu achei que tinha visto uma pessoa que eu não gostava e aí dei um tapa na cara dessa pessoa, mas percebi que não era ela. Foi uma alucinação que eu tive, estava agressivo.Eu tive um surto e pedi para que a minha mãe me tirasse de lá. Fiquei 25 dias internado.
Zé Victor: Eu fiquei internado em Cristália (comunidade terapêutica localizada perto de Minas Gerais). Fiquei amarrado por 20 minutos mas foi muito ruim, me deram injeção. Fiquei 4 dias internado e pedi para que me tirassem de lá. Nesse lugar tinha um banheiro só no qual todo mundo te via pelado. Mas lá também tinha ginástica, dança, futebol, piscina. Eu não quis ficar lá porque não conhecia.
Manoel: Meu pai só me internava, e quando isso acontecia, vinha a Polícia Militar junto. Foram 48 internações (tinha uma hora que nem queriam mais me internar), até que a minha família pediu para que ele parasse de me internar e eu comecei a trabalhar (fui cobrador de ônibus em São Paulo). Meu pai disse que me internava porque ficava preocupado comigo: eu saía de casa, ficava vagando pelas ruas sem rumo, acabava me perdendo, mas eu nunca fui agressivo. Já fui amarrado: é a coisa mais horrível que tem. Quando eu ficava internado, me dava desespero e medo dos outros pacientes me machucarem, tinha até um que queria pegar meu tênis. Já vi usar camisa de força mas sei que hoje, a camisa de força é proibida. Agora eu aceitei minha doença e desde o momento que eu aceitei, eu melhorei.
Quésia: Já fui internada 1 vez aqui no CAPS, mas eu tenho uma tia (Neide) que já foi internada no Hospital Anchieta, no Franco da Rocha e no Juqueri. Ela foi muito maltratada e nunca foi curada, ela até passou por eletrochoque.
Manoel: Eu presenciei sessões de eletrochoque, mas não podia entrar.
Alfredo: Ainda tem eletrochoque?
Elvira: Eu só vi nos filmes. Em "Uma mente brilhante", o personagem principal era um gênio matemático. No filme, ele sofria várias sessões de eletrochoque. Tem também a novela "Amor à vida" na qual a Paloma também passava por esse tratamento.
Alfredo: Bicho de sete cabeças. Lembra bastante a comunidade terapêutica que eu fiquei.
Rontauser: Um estranho no ninho. Eu já passei por essas sessões de eletrochoque.
Celso: Eu escapei 1 vez do eletrochoque.
Elvira: Francis. É a história de uma mulher a frente do seu tempo (anos 30) que foi chamada de comunista, louca e por causa disso ela foi lobotomizada.
Zé Victor: A ilha do medo
Elvira: Laranja Mecânica no qual o personagem principal foi lobotomizado.
A partir disso, foi explicado o que é o procedimento de lobotomia.
Perguntamos sobre as diferenças que eles percebiam, da internação que eles já passaram e o atendimento que eles têm aqui no CAPS: "Aqui podemos sair, conhecer tudo; tem os amigos que fizemos e estamos perto da família."
Discutimos sobre os outros dispositivos que vão além do CAPS e que fazem parte da rede de atenção psicossocial: as residências terapêuticas, a SERP, as policlínicas e etc.
Por último, conversamos sobre o preconceito que ainda existe com usuários de saúde mental.
Alfredo: Tem muito preconceito para quem busca tratamento psicológico. No trabalho eu era chamado de "louquinho".
Elvira: "Pinel" (nome de um hospital psiquiátrico) se tornou um adjetivo: "ele é pinel".
Rontauser: Mas agora tá tendo uma ênfase da mídia de que devemos aceitar as diferenças.
Músicas e foram lembradas durante a nossa conversa:
- Seven- Os 7 pecados capitais
- Laranja Mecânica
- Uma mente brilhante
- Bicho de 7 cabeças
- Francis
- Ilha do medo
- Um estranho no ninho
-"Liberdade acima de tudo" - Charlie Brown Jr.
-"Maluco beleza" - Raul Seixas
Parabéns pela ótima e rápida postagem, Larissa e Aline. Realmente, o tema levantado é oportuno e polêmico. Imagino os sofrimentos pelos quais os Amigos passaram, quando foram internados. Espero que nunca mais venham a sofrer dessa maneira. Boa seleção de filmes, música e ilustração.
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